segunda-feira, 28 de junho de 2010
Já faz anos...
Já aceitei que amo você. Aceitei que eu serei uma daquelas pessoas que aos 70 anos, mesmo casada, com filhos e netos, sonha em reencontrar seu amor de verdade, seu primeiro amor, aquele que ainda lhe tira noites de sono e a quem dedica suspiros profundos no café da manhã. Serei aquela doce senhora que ainda pensa no amado ao ouvir certas músicas, assistir a certos filmes e dar, escondida, o último trago no cigarro.
E pensarei em você ao regar as plantas, ao fazer bolinhos de chuva, escrever receitas e levar o bebê para passear no parque. Imaginarei você, como estará, onde estará e com quem. Verei o seu rosto ainda novo em todo e qualquer senhor que passar pela minha frente e ensaiarei na frente do espelho o que falaria a você quando nos encontrássemos.
Ficarei esperando notícias, um e-mail, um cartão. Darei um jeito de saber a quantas anda sua vida e farei milhares de promessas a fim de te encontrar por aí, por acaso ou não. Saberei que só você poderia me fazer feliz e me arrependerei todos os dias de ter te deixado partir. Ficarei a indagar a mim mesma se você ainda pensa em mim e me darei por satisfeita sempre que, por a+b, chegar a uma resposta positiva. E terei certeza de que a todo momento que sentir o seu perfume - que nunca terá saído de minha memória - é porque naquele exato segundo você também se lembrou de nosso passado e sentiu saudades.
Serei a que acordará toda manhã e olhará para o lado ainda esperançosa, querendo que seja você o corpo já meio velho estendido ao lado. Querendo ser o corpo já meio velho estendido ao seu lado, ao lado do homem que tem certeza que é o homem de sua vida.
A.
domingo, 23 de maio de 2010
Quando? Foi num domingo à tarde...
Num café com amigas numa tarde de domingo cheguei a uma conclusão: “Love isn't enough if there's no commitment. Commitment isn't enough if there's no love”. Simples assim. Acho que durante muito tempo acreditei que amar alguém era motivo suficiente para que todas as barreiras da vida desabassem e todos os acasos fizessem com que o amor fosse possível e concretizado.
Acho que andei assistindo a muita comédia romântica. Jesus! Estava andando com um óculos cor de rosa e achando que o mundo era assim...bonito! Mas o problema não é esse, o problema é que o óculos cor de rosa fez meu mundo ficar cinza. Achando que os romances atingiam a perfeição e que o amor ultrapassava distâncias, fiquei por esperar uma realidade nunca alcançada. Cansei.
O amor existe. Existia, talvez seja a palavra correta, não importa. O amor estava lá e não superou a distância, a cobrança, a dúvida. Love with no commitment. De fato, não é suficiente.
Lá estou eu, numa manhã gelada e mau humorada de segunda feira. Sento no ônibus e começo a ler o livro que já era para ter sido terminado há muito tempo. Uma amiga entra no ônibus e todo o meu mau humor e frio e concentração desmoronam. “Viu o orkut dele?” ela pergunta. E sem nem esperar uma resposta de fato, só pela cara de ponto de interrogação, imenda: “achei que tivesse visto. Ele postou fotos com a garota. Agora parece ser oficial, com beijos e presentes e declarações. Ela nem é feia não, viu¿ É bem ajeitadinha até. Achei que tivesse visto as atualizações.” Era uma segunda feira, não era nem 5 horas da manhã, fazia muito frio, eu estava lendo. Algumas pessoas simplesmente não têm noção.
Me fiz de desinteressada e fingi estar com sono. Peguei o meu iPod e fingi dormir. Passei o caminho todo olhando o dia amanhecer, os ensaios de raio de sol batendo nas folhas, depois prédios, concreto, carros e finalmente pessoas me acalmava de um jeito que jamais saberei descrever. O iPod, que nessas horas sabe muito bem o que seu dono sente e faz questão de representar em músicas esse saber, mesmo no shuffle, tocava a canção mais adequada (ou menos, dependendo do ponto de vista).
Chorei. A cada moto, cada UNO e a cada casal que passava. Chorei. Mas as lágrimas dessa vez eram diferentes, eram doces. Acabou. Não tenho mais motivos para alimentar nenhum tipo de esperança. Não me procura mais, está com outra, está feliz. Foi quase como um alívio.
Foi então que me dei conta que não daria mesmo certo. Não há comprometimento. Eu não faria maiores esforços. Você faria. Você fez, mas não há amor. Não adianta, não é suficiente. Nunca será. “Love isn't enough if there's no commitment. Commitment isn't enough if there's no love”.
A.
domingo, 18 de abril de 2010
Amor de todos
E lendo esses versos, entendo que não sou só eu, que não estou sozinha.
Escreveu como se tirasse do meu peito todas as palavras, todas as vírgulas, o ponto final. Mas eram experiências dele próprio. E de outros. Por mais que iguais, não me pertenciam.
Não sou só eu, não estou sozinha. O amor é um (sentimento) sofrimento universal, não é privilégio meu.
"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele." Caio Fernando Abreu
A.
Escreveu como se tirasse do meu peito todas as palavras, todas as vírgulas, o ponto final. Mas eram experiências dele próprio. E de outros. Por mais que iguais, não me pertenciam.
Não sou só eu, não estou sozinha. O amor é um (sentimento) sofrimento universal, não é privilégio meu.
"Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanecerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão nunca enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparado atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em algum cheiro estranho o cheiro preciso dele." Caio Fernando Abreu
A.
domingo, 11 de abril de 2010
Fechando e abrindo a geladeira a noite inteira
Numa noite dessas em que recostar a cabeça no travesseiro é o mesmo que se lançar à guilhotina, preferi não dormir.
Os pensamentos a seu respeito me atormentavam e para qualquer lugar que fosse, longe ou perto, me acompanhavam.
Perturbada, passei a noite subindo e descendo as escadas, variando entre meu quarto e a cozinha e então, num gesto desesperado de colocar para fora tudo aquilo que me enchia de angústia e dor, num pedaço de papel toalha, com a caneta de marcar o que precisa comprar no supermercado, escrevi:
“E eu, que por medo evitava o seu sorriso, me perdi no teu olhar.
Em ambas as situações, vamos olhar para trás e lembrar deste momento. Dessa conversa. Eu vou querer nunca ter falado isso, ter deixado rolar. Você vai querer ter dito alguma coisa, interferido, não ter deixado acabar.
E nós dois vamos seguir nossas vidas mesquinhas e completamente normais sem nunca amar de novo como amamos um ao outro e sempre se perguntando se se nos encontrássemos pela quarta vez daria certo.
Mas você jamais abandonaria sua cidadezinha praiana e eu jamais a cidade grande.
Saberíamos que encontramos o amor das nossas vidas, mas que o deixamos passar por medo, insegurança e egoísmo.
Eu vou sempre procurar um marido mais bonito, que me dê filhos loiros e um apartamento em Nova York e você vai sempre procurar a mulher que cuide da padaria enquanto você surfa.
E de tanto procurarmos a nós mesmos em outras pessoas, vamos nos perder. Para sempre.”
A.
Os pensamentos a seu respeito me atormentavam e para qualquer lugar que fosse, longe ou perto, me acompanhavam.
Perturbada, passei a noite subindo e descendo as escadas, variando entre meu quarto e a cozinha e então, num gesto desesperado de colocar para fora tudo aquilo que me enchia de angústia e dor, num pedaço de papel toalha, com a caneta de marcar o que precisa comprar no supermercado, escrevi:
“E eu, que por medo evitava o seu sorriso, me perdi no teu olhar.
Em ambas as situações, vamos olhar para trás e lembrar deste momento. Dessa conversa. Eu vou querer nunca ter falado isso, ter deixado rolar. Você vai querer ter dito alguma coisa, interferido, não ter deixado acabar.
E nós dois vamos seguir nossas vidas mesquinhas e completamente normais sem nunca amar de novo como amamos um ao outro e sempre se perguntando se se nos encontrássemos pela quarta vez daria certo.
Mas você jamais abandonaria sua cidadezinha praiana e eu jamais a cidade grande.
Saberíamos que encontramos o amor das nossas vidas, mas que o deixamos passar por medo, insegurança e egoísmo.
Eu vou sempre procurar um marido mais bonito, que me dê filhos loiros e um apartamento em Nova York e você vai sempre procurar a mulher que cuide da padaria enquanto você surfa.
E de tanto procurarmos a nós mesmos em outras pessoas, vamos nos perder. Para sempre.”
A.
sexta-feira, 9 de abril de 2010
Eu ontem, olhos de hoje. Eu hoje, olhos de amanhã.
Fiquei um tempo afastada dos teclados do computador. Minto. Na verdade tenho um longo e bem direto contato com eles todos os dias, mas eles têm estado bem longe do meu coração e dos meus pensamentos.
Acho que o que se passa na minha cabeça e os sentimentos que andam comigo são tão complexos, confusos e nublados que era praticamente impossível transformá-los em palavras. O meu eu interior pode ser comparado, atualmente, ao tempo que está fazendo em São Paulo há mais ou menos uma semana. As nuvens incobrem o céu o dia todo, mas em pequenos e raros momentos é possível enxergar alguns pontos azuis na imensidão do horizonte e chega-se, inclusive, a pensar que o sol vai sair de novo, tornando o dia dia de novo, claro, límpido. Mas, como já mensionado antes, eram só mesmo alguns pontos, pequenos pontos, e não aconteciam a todo momento.
Tenho achado mais graça nas apresentações de power point que tenho que fazer para os trabalhos de faculdade do que a maioria das conversas com amigos. Acho todo mundo muito criança e percebo com muito mais clareza a futilidade com a qual as pessoas levam suas vidas. Meus melhores amigos nesses tempos tórridos e estranhos tem sido os livros. E não sei o que isso significa. Acho que estou crescendo. De novo. A primeira vez que de fato tive essa sensação foi há, aproximadamente, cinco anos. Voltava de intercâmbio e, numa confusão que não tenho como descrever, no alto dos meus apenas 16 anos de idade, sabia que estava ficando diferente. Olhava para tudo com outros olhos, os mesmo olhos, mas outros. Era estranho. Ao entrar no meu velho quarto, apenas pouco mais de seis meses depois de partir, não reconhecia a pessoa que gostava daquele rosa gritante nas paredes, que vestia àquelas roupas presentes no armário, que tinha bichinhos de pelúcia e cartinha de amigos espalhados pelo mural. Amigos. Esses não conseguiam entender. Eu também não conseguia e, consequentemente, não sabia explicar. Poderia até ter tentado. Seria em vão. Me afastei.
Não tinha mais paciência com aquelas mesmas pessoas, não ria mais daquelas mesmas piadas, não fazia questão de nada. Crise, crise e mais crise. Foi assim durante um ano inteiro. Com o corpo num país e o coração no outro. Quando confusa, não sabia o porquê. Hoje sei: estava crescendo.
Amadurecer é difícil. Mesmo porque, não fazemos isso ao mesmo tempo que nossos amigos, irmãos e namorados. Estamos mudando, não nos reconhecemos mais. Muito menos a eles.
Acho que passo por essa fase novamente. Não tenho mais paciência para comportamento adolescente e jovem demais. Nunca fui uma pessoa de balada. Nunca gostei de sair com o intuito de ver gente bêbada beijando na boca de outros cidadãos bêbados dos quais não sabem nem o nome, dançando uma música que, na maioria das vezes, não faz o menor sentido e tendo que berrar para conseguir fazer algum comentário até desistir e ficar em silêncio. Até o fim da noite. Os meus programas favoritos sempre foram ir à casa de algum amigo, me dar ao luxo de comer e beber à vontade e desfrutar de uma boa, longa e, de preferência, filosófica conversa à luz do luar e ao som de algo bem calmo, tranquilo e que não estivesse na moda.
É óbvio que ser assim aos 16 anos de idade era o mesmo, ou até pior, que ser um ET. Assim sendo, guardava para mim e para mim apenas essa minha verdadeira identidade. Me forçava a sair e fingia que estava gostando. Mas não tinha jeito. Barzinho, tudo bem, adorava. Ainda gosto, acho válido. Pessoas novas, grande possibilidade de conhecer alguém, mas com a possibilidade de tomar algo sentado, conversando e ouvindo algo a que se pode chamar de música. Mas balada não. Não dava. Sempre era a primeira a sentar no sofazinho com a desculpa de dor nos pés por causa do salto alto demais para quem nunca os usa ou de estar bêbada demais (o que era sempre mentira). Tá aí, nunca gostei de ficar bêbada demais. Gosto de caipirinha de saquê (com lima) por causa do gosto e admiro um bom vinho. Cerveja só quando está muito calor e de preferência Heineken, nada muito doce. Fora isso, tomar àqueles líquidos a quem têm coragem de chamar “vodka” com algum nome de mulher e a preço de banana só para “ficar muito louco” e ainda por cima acordar no dia seguinte como se tivesse sido atropelada por um caminhão (duas vezes e em cheio) não era muito a minha praia. Continua não sendo.
Ser diferente de todos os meus amigos e, aparentemente, de todos os cidadãos comuns da minha idade me incomodava profundamente. Mas era algo a que eu não conseguia controlar. Inventava, então, desculpas como “minha mãe não deixa”, “estou sem grana” ou a famosa “moro muito longe” e até “acordo muito cedo” e ia dormir, metade frustrada, metade aliviada.
Acho que hoje (e hoje me refiro ao dia de hoje. Mesmo. Não sei de amanhã.) consigo me entender. Talvez não consiga entender a mim mesma na atual conjuntura, na nova fase. Mas entendo o “eu” de alguns anos atrás. E isso já é um belo começo.
Mas voltando ao começo do texto e o, a princípio, foco principal: acho que estou mudando. De novo. E quem sabe daqui a uns 5 anos eu não venha a discorrer sobre esse fato começando com “no alto de meus apenas 20 anos de idades...”. Quem sabe.
A.
terça-feira, 16 de março de 2010
Os muitos "você" que causam efeitos em um só "eu"
“Ele tem um poder sobre mim que não sei explicar. Ele me desespera”. Foi assim que te defini para uma amiga hoje, como um alguém que consegue fazer de mim e comigo o que poucos, ou quase nenhum, conseguem. Não te entendo. Não entendo mais o que quer comigo. Essa sua bipolaridade, sua mania de dizer sim quando quer dizer não e vice-e-versa me confunde demasiadamente.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Aquele compromisso, o que eu inventei para poder te rever. E pronto, nosso reencontro vai ser adiado por, pelo menos, um mês. Às vezes tenho certeza de que é o próprio destino mudando todos os caminhos e brincando comigo quando tento controlá-lo. Mas, por mais incrível que pareça, não sei se acho isso bom ou ruim. Penso que talvez não seja mesmo a hora de eu te ver, cara a cara, e vejo nisso um pretexto para continarmos nos falando por mais esse mês.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Mas não foi só isso. Você fez questão de me explicar o porquê desse infortúnio. Veio me contar que sofreu um acidente, mas não foi só isso. Fez questão de citar que estava levando uma garota para jantar e que ela usava um sapato delicado na garupa de sua moto quando um carro fechou vocês, fazendo com que caíssem, sofressem um acidente. Fez questão de me acalmar, dizendo que a moto foi destruída, mas que você está bem e que a garota apenas sofreu uma pequena lesão no pé (por conta do tão delicado sapato) e que se sente culpado sem razão de sê-lo. Você abriu seu coração para mim. Quase que como amigo. Amigo que jamais será, amigo impossível de ser. Você me contou da garota e assim se referiu a ela: “garota”. Não consigo imaginar o porquê disso. Talvez quisesse mesmo que eu soubesse da existência de uma pessoa importante, pela qual você se preocupa, pela qual se locomoveu quilômetros e para a qual pagaria o jantar. Tudo bem. Eu já sabia. Você, mesmo que quisesse me machucar com isso, não poderia mais. Talvez eu até precisasse saber de você e não ter que ficar fuçando, como uma detetive em busca de provas, uma parte da sua vida que um dia me pertenceu.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. Mas não desistiu da conversa depois de cumprir sua obrigação de me avisar com antecedência. Ao mesmo tempo que te vejo me afastando e deixando claro certos assuntos e certos limites, te vejo brincando, te vejo interessado. Quer saber da minha vida, quer ouvir minhas histórias, parece torcer por mim. Você se mostra muito solícito, muito compreensivo e faz por mim favores que estão ao seu alcance. Também deixou muito explícito que gostaria que esse contato se tornasse constante e que se esforçará para remarcar nosso compromisso o mais breve possível. Talvez você só mantenha por mim um apreço e um respeito que, de fato, me é merecido. Talvez. Já entendi meu lugar nessa história toda, pelo menos por enquanto. Eu sei que aquela a quem você se referiu como “a garota” também é quem você chama de “amor” nos meios que você sabe que vejo. E, pela primeira vez, tudo bem.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. E então, depois de tentar entender se aquilo era bom ou ruim, depois de ter que suportar você me confessando a vida amorosa e depois de aproveitar e desfrutar de uma parte simpática e atensiosa sua da qual tenho tantas saudades, tive vontade de te dizer que gosto de ser sua amiga. Tá bom, sejamos claros: não sou sua amiga. Mas tive na ponta da língua o discurso que diz, basicamente, que gosto de você. Independente da intensidade desse “você”, que gosto de te ter por perto e de conversar com a sua pessoa. Hoje não importou tanto se estava mesmo compromissado, se não quer mesmo nada comigo e se não vamos nos ver no domingo para o qual estava me preparando. Hoje só importou a companhia agradável, as risadas, a conversa saudável. Hoje só importou você, e não o você que me desespera, mas o você que me conforta, que me acalma e me traz paz. Se eu tivesse que te descrever para alguma amiga agora, seria assim: “Ele tem um poder sobre mim que não sei explicar. Ele me faz querer ficar perto dele, independentemente do que esse ‘perto’ possa ou deva significar”.
A.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Aquele compromisso, o que eu inventei para poder te rever. E pronto, nosso reencontro vai ser adiado por, pelo menos, um mês. Às vezes tenho certeza de que é o próprio destino mudando todos os caminhos e brincando comigo quando tento controlá-lo. Mas, por mais incrível que pareça, não sei se acho isso bom ou ruim. Penso que talvez não seja mesmo a hora de eu te ver, cara a cara, e vejo nisso um pretexto para continarmos nos falando por mais esse mês.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio para desmarcar nosso compromisso. Mas não foi só isso. Você fez questão de me explicar o porquê desse infortúnio. Veio me contar que sofreu um acidente, mas não foi só isso. Fez questão de citar que estava levando uma garota para jantar e que ela usava um sapato delicado na garupa de sua moto quando um carro fechou vocês, fazendo com que caíssem, sofressem um acidente. Fez questão de me acalmar, dizendo que a moto foi destruída, mas que você está bem e que a garota apenas sofreu uma pequena lesão no pé (por conta do tão delicado sapato) e que se sente culpado sem razão de sê-lo. Você abriu seu coração para mim. Quase que como amigo. Amigo que jamais será, amigo impossível de ser. Você me contou da garota e assim se referiu a ela: “garota”. Não consigo imaginar o porquê disso. Talvez quisesse mesmo que eu soubesse da existência de uma pessoa importante, pela qual você se preocupa, pela qual se locomoveu quilômetros e para a qual pagaria o jantar. Tudo bem. Eu já sabia. Você, mesmo que quisesse me machucar com isso, não poderia mais. Talvez eu até precisasse saber de você e não ter que ficar fuçando, como uma detetive em busca de provas, uma parte da sua vida que um dia me pertenceu.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. Mas não desistiu da conversa depois de cumprir sua obrigação de me avisar com antecedência. Ao mesmo tempo que te vejo me afastando e deixando claro certos assuntos e certos limites, te vejo brincando, te vejo interessado. Quer saber da minha vida, quer ouvir minhas histórias, parece torcer por mim. Você se mostra muito solícito, muito compreensivo e faz por mim favores que estão ao seu alcance. Também deixou muito explícito que gostaria que esse contato se tornasse constante e que se esforçará para remarcar nosso compromisso o mais breve possível. Talvez você só mantenha por mim um apreço e um respeito que, de fato, me é merecido. Talvez. Já entendi meu lugar nessa história toda, pelo menos por enquanto. Eu sei que aquela a quem você se referiu como “a garota” também é quem você chama de “amor” nos meios que você sabe que vejo. E, pela primeira vez, tudo bem.
Hoje você veio falar comigo. De novo. E veio desmarcar nosso compromisso. E então, depois de tentar entender se aquilo era bom ou ruim, depois de ter que suportar você me confessando a vida amorosa e depois de aproveitar e desfrutar de uma parte simpática e atensiosa sua da qual tenho tantas saudades, tive vontade de te dizer que gosto de ser sua amiga. Tá bom, sejamos claros: não sou sua amiga. Mas tive na ponta da língua o discurso que diz, basicamente, que gosto de você. Independente da intensidade desse “você”, que gosto de te ter por perto e de conversar com a sua pessoa. Hoje não importou tanto se estava mesmo compromissado, se não quer mesmo nada comigo e se não vamos nos ver no domingo para o qual estava me preparando. Hoje só importou a companhia agradável, as risadas, a conversa saudável. Hoje só importou você, e não o você que me desespera, mas o você que me conforta, que me acalma e me traz paz. Se eu tivesse que te descrever para alguma amiga agora, seria assim: “Ele tem um poder sobre mim que não sei explicar. Ele me faz querer ficar perto dele, independentemente do que esse ‘perto’ possa ou deva significar”.
A.
quinta-feira, 11 de março de 2010
Ao sair da escuridão, as coisas como elas são
Tenho uma teoria sobre o fundo do poço e sua mola.
É chegada uma hora em que não dá para ficar pior. É aí que você finalmente alcançou o fundo do poço. O tombo, o cair é a parte mais dolorosa. É o momento em que tudo vai ficando mais escuro gradualmente e isso pode levar muito tempo. É desesperador, é como olhar para o lado e enxergar paredes invisíveis. São as paredes de uma bolha do próprio problema, do sofrimento e para onde quer que você vá, a bolha vai com você.
É como não conseguir tocar os pés no chão e navegar num céu eterno. Mas não é o céu como o idealizamos. Isso é estar apaixonado, perdidamente apaixonado e não ser correspondido. É como uma faca atravessando o coração muito lentamente, de maneira que você sente as veias e artérias se rasgarem e serem atravessadas em câmera lenta, uma a uma. E essa dor parece que não vai passar nunca.
Chegar ao fundo do poço, diferente do que a maioria pensaria, não é a pior parte.
Chegar ao fundo do poço é a solução. Quando se alcança o fundo, mas o fundo mesmo, de terra, só há duas possibilidades: ou se morre, soterrado. Ou se levanta, de vez. A terra maciça que permeia o final do tombo tem uma mola. Quando já não se tem mais para onde cair, só se resta levantar. E a mola te empurra, com toda força, para o nível do chão, para a sanidade mental de novo.
Hoje eu cheguei ao fundo do poço. Ao fundo do seu poço. E depois de tanta gente me avisar e me aconselhar, eu entendi. Sozinha. Você não está nem aí mesmo. Por mais que tivesse puxado assunto, não se lembrava da última conversa. E lá fui eu, no momento em que sabia que estava falando com ela, falei com você. Que foi indiferente, nem ligou. Falei asneiras, coisas sem nexo. Essa é a pior parte da paixão: falar coisas sem nexo. Tudo o que eu falei não fazia sentido. Nem para mim. E poderia ter um porquê se você ajudasse. Mas você me deixou ali, sozinha, confusa, atrapalhada, perdida nas minhas próprias palavras sem sentido, sem nexo.
Me senti um nada. De repente uma onda de racionalidade veio à cabeça. Depois de muito, muito tempo de insanidade. E então eu consegui enxergar a minha situação de fora, como se a alma tivesse abandonado o corpo só para observar a si mesmo. E lá estava ela: uma garotinha perdida, atrapalhada, sem rumo, chorando. Uma pessoa pequena, perdida em si mesma, tentando achar seu caminho no meio de um labirinto sem fim. Teimando em apertar um botão que quebrou, não funciona mais.
E então a alma voltou e contou ao corpo o que vira e eu me olhei no espelho, toda borrada de rímel, descabelada e nada apresentável. Que lamentável! E então eu entrei em sua página de relacionamentos de novo. Sim, entrei. E vi todos os seus recados e todas as suas fotos e me provoquei. Foi como cortar os pulsos. Às vezes é preciso cortar os pulsos para ver o próprio sangue. Para encontrar a realidade.
Estou no fundo do poço, tenho a mola sob meus pés e posso escolher dar o impulso ou morrer soterrada, no fundo, para sempre. Eu fucei os seus recado e suas fotos e descobri que não sei mais nada de sua vida. Eu estou apaixonada por uma lembrança, por pó. Eu preciso seguir em frente. Eu vou dar o impulso. Sim, eu vou te encontrar, eu vou fazer a maldita entrevista. Ainda preciso disso. Preciso olhar para você de novo. Preciso olhar nos olhos de quem me fez tanto sofrer. Preciso não precisar mais. E vai ser te vendo, com todos os defeitos e imperfeições, com todo o sarcasmo e indiferença que te pertencem e que me ferem que o impulso será dado. E então eu encontrarei o chão e a claridade novamente. E a bolha vai se desfazer e a minha alma voltará ao meu corpo. E então eu estarei livre. Com memórias, com histórias, mas livre. Mais sã.
É chegada uma hora em que não dá para ficar pior. É aí que você finalmente alcançou o fundo do poço. O tombo, o cair é a parte mais dolorosa. É o momento em que tudo vai ficando mais escuro gradualmente e isso pode levar muito tempo. É desesperador, é como olhar para o lado e enxergar paredes invisíveis. São as paredes de uma bolha do próprio problema, do sofrimento e para onde quer que você vá, a bolha vai com você.
É como não conseguir tocar os pés no chão e navegar num céu eterno. Mas não é o céu como o idealizamos. Isso é estar apaixonado, perdidamente apaixonado e não ser correspondido. É como uma faca atravessando o coração muito lentamente, de maneira que você sente as veias e artérias se rasgarem e serem atravessadas em câmera lenta, uma a uma. E essa dor parece que não vai passar nunca.
Chegar ao fundo do poço, diferente do que a maioria pensaria, não é a pior parte.
Chegar ao fundo do poço é a solução. Quando se alcança o fundo, mas o fundo mesmo, de terra, só há duas possibilidades: ou se morre, soterrado. Ou se levanta, de vez. A terra maciça que permeia o final do tombo tem uma mola. Quando já não se tem mais para onde cair, só se resta levantar. E a mola te empurra, com toda força, para o nível do chão, para a sanidade mental de novo.
Hoje eu cheguei ao fundo do poço. Ao fundo do seu poço. E depois de tanta gente me avisar e me aconselhar, eu entendi. Sozinha. Você não está nem aí mesmo. Por mais que tivesse puxado assunto, não se lembrava da última conversa. E lá fui eu, no momento em que sabia que estava falando com ela, falei com você. Que foi indiferente, nem ligou. Falei asneiras, coisas sem nexo. Essa é a pior parte da paixão: falar coisas sem nexo. Tudo o que eu falei não fazia sentido. Nem para mim. E poderia ter um porquê se você ajudasse. Mas você me deixou ali, sozinha, confusa, atrapalhada, perdida nas minhas próprias palavras sem sentido, sem nexo.
Me senti um nada. De repente uma onda de racionalidade veio à cabeça. Depois de muito, muito tempo de insanidade. E então eu consegui enxergar a minha situação de fora, como se a alma tivesse abandonado o corpo só para observar a si mesmo. E lá estava ela: uma garotinha perdida, atrapalhada, sem rumo, chorando. Uma pessoa pequena, perdida em si mesma, tentando achar seu caminho no meio de um labirinto sem fim. Teimando em apertar um botão que quebrou, não funciona mais.
E então a alma voltou e contou ao corpo o que vira e eu me olhei no espelho, toda borrada de rímel, descabelada e nada apresentável. Que lamentável! E então eu entrei em sua página de relacionamentos de novo. Sim, entrei. E vi todos os seus recados e todas as suas fotos e me provoquei. Foi como cortar os pulsos. Às vezes é preciso cortar os pulsos para ver o próprio sangue. Para encontrar a realidade.
Estou no fundo do poço, tenho a mola sob meus pés e posso escolher dar o impulso ou morrer soterrada, no fundo, para sempre. Eu fucei os seus recado e suas fotos e descobri que não sei mais nada de sua vida. Eu estou apaixonada por uma lembrança, por pó. Eu preciso seguir em frente. Eu vou dar o impulso. Sim, eu vou te encontrar, eu vou fazer a maldita entrevista. Ainda preciso disso. Preciso olhar para você de novo. Preciso olhar nos olhos de quem me fez tanto sofrer. Preciso não precisar mais. E vai ser te vendo, com todos os defeitos e imperfeições, com todo o sarcasmo e indiferença que te pertencem e que me ferem que o impulso será dado. E então eu encontrarei o chão e a claridade novamente. E a bolha vai se desfazer e a minha alma voltará ao meu corpo. E então eu estarei livre. Com memórias, com histórias, mas livre. Mais sã.
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